28.7.04

Conselhos do Coraçao por Sua Santidade o Dalai Lama

Em geral, digo o seguinte aos jornalistas:

Na nossa época, sobretudo nos países democráticos, o vosso poder sobre a opinião das pessoas e as vossas responsabiliddaes são enormes. Uma das vossas tarefas mais úteis é, a meu ver, combater a mentira e a corrupção. Examinem em pormenor, honesta e imparcialmente, o ocmportamento dos chefes de estado, dos ministros e de outras personalidades importantes. Quando rebentou o escândalo a propósito da vida sexual do presidente Clinton, apreciei muito o facto do chefe do país mais poderoso da Terra poder ser levado a comparecer perante um tribunal como qualquer outro cidadão. É óptimo os jornalistas meterem o nariz por todo o lado e investigarem as actividades dos homens públicos, de modo a revelarem se eles são ou não dignos da confiança dos eleitores. Mas é importante que isso seja feito de uma maneira honesta, sem falcatruas e sem parcialidade. O vosso objectivo não deve ser o de fazer triunfar o vosso próprio campo, destruindo a reputaç~~ao de um inimigo político ou de um partido adverso.
Os jornalistas deviam ainda realçar e promover as qualidades humanas fundamentais. Em geral só se interessam pela actualidade escaldante, sobretudo se ela for horrível. Os seres humanos, no seu interior profundo, consideram o homicídio como um acto inaceitável e chocante, algo que não devia acontecer. É por isso que o homicídio, quando acontece, enche as primeiras páginas dos jornais. O mesmo se passa com a corrupção e com outras más acções. Pelo contrário, educar os filhos, tomar conta dos idosos ou tratar dos doentes, parecem-nos comportamentos normais, que não merecem figurar nas notícias.
O principal defeito desta atitude é ela levar gradualmente a sociedade em geral, e os jovens em particular, a considerar os homicídios, os roubos e as demais violências como a norma. Arriscamo-nos a pensar que a natureza humana é cruel e que não há maneira de impedir que ela se exprima. Um dia, se estivermos seriamente convencidos disso, acabamos por perder toda e qualquer esperança no futuro da humanidade. Talvez não pensemos: já que não é possível desenvolver as qualidades humanas e promover a paz, por que não hei-de ser um terrorista? Já que ajudar os outros nã serve de nada, por que não hei-de ignorar o resto do mundo e viver à parte, só para mim?
Se forem jornalistas, tomem consciência deste problema e assumam as vossas responsabilidades. Mesmo que os vossos leitores ou auditores não se pelem por isso, falem também do que os outros fazem de bem.